Num país como este nosso
Portugal, e neste nosso tempo, onde e quando o Teatro Profissional abrange e
serve muito desigualmente o diverso território, sendo cada vez mais escassas as
Companhias sobreviventes em muitas capitais de Distrito, fora dos grandes
centros urbanos – como é consolativo verificar que o Teatro Amador, com tantas
ou mais dificuldades ainda nos recursos de funcionalidade, vai briosamente
cumprindo a sua função sociocultural: afinando sensibilidades, despertando
vocações artísticas, agitando marasmos de comodismo egoísta, abrindo fronteiras
de consciência política e renovado humanismo.
Por certo nunca será demasiado
insistir neste ponto: o exercício amador da Arte Teatral é amplamente salutar.
E nunca ouvimos falar de empresários ou diretores escolares que se tenham
arrependido de patrocinar qualquer grupo dramático no respetivo âmbito laboral
ou de ensino. Porque sempre os amadores de teatro se evidenciarão, positivamente,
no seu profissional trabalho quotidiano, tal como, nas mesmas circunstâncias,
sempre se hão de salientar nas aulas os alunos universitários, mas até os de
escolas básicas ou secundárias.
Se o Teatro Profissional atinge
por vezes níveis admiráveis de qualidade artística (devidos naturalmente à
aprendizagem regular e institucional), não deixa o Teatro Amador de surpreender-nos
de quando em quando, com o desempenho de um intérprete, a destreza duma
encenação, a ousadia de um cenário – decididamente superando a tradicional insuficiência
de meios. Mesmo tendo em consideração a justa remuneração devida aos profissionais
(que permite a sua subsistência), não creio haver grande vantagem em demarcar, insistir
demasiado na verdadeira vocação do profissional e na generosa devoção do
amador. Porque um e outro servem a sua Arte de eleição consoante as suas
disponibilidades de tempo.
E como é impressionante saber que
alguém, depois de umas tantas horas de trabalho, privando-se do repouso e do
convívio familiar, ainda tem ânimo de se entregar a ensaios ou representações
teatrais! No campo específico do Teatro, mais que desejável é a solidariedade
entre profissionais e amadores. Participem os primeiros, sempre que possível,
em ateliês de formação dos segundos, que, por sua vez, lhes poderão fornecer
intérpretes profissionalizantes e ajudar à habituação, à fidelidade de um
público.
Por outro lado, há que lembrar à
Secretaria de Estado da Cultura e a algumas Câmaras Municipais mais renitentes
que o Teatro – profissional ou amador – é mesmo uma criatividade cultural prestigiante e
subsidiável. Mais que certos fogos de artifício que por todo esse País deflagram
num esplendor e logo desaparecem. (Metaforicamente falando, claro).
NORBERTO ÁVILA
Dramaturgo
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